Para quem é empreendedor ou entusiasta do ecossistema, ir ao Vale do Silício pode ser mais empolgante do que a Disney é para as crianças. A região, a 50 minutos de São Francisco, na Califórnia, reúne as sedes das principais gigantes da tecnologia, como Google, Facebook e Apple. Mas, ao contrário do parque de diversões, não basta só chegar lá para aproveitar – a não ser, claro, que o seu objetivo seja apenas tirar fotos na fachada das empresas e postar nas redes sociais.
João Quintella, CEO da Liuv, plataforma de pagamentos via smartphone e uma das startups iDEXO, acaba de voltar de três semanas no Vale do Silício e dá dicas de como aproveitar ao máximo a viagem para aquilo que realmente importa: fazer negócios.
.Conecte-se com antecedência
Antes de embarcar, procure no LinkedIn as pessoas com quem deseja falar. Não dá para chegar lá e simplesmente bater na porta do Google, por exemplo. Se você não tiver alguém para te receber, não entra em nenhuma empresa. Importante: na hora de tentar a conexão, mostre que pode ser interessante para aquela pessoa te conhecer. Em geral, o pessoal é muito ocupado e disputado, mas também aberto para conversas se o assunto tiver valor. A cultura de networking é muito forte por lá – você vê pessoas trocando cartões em bares, cafés, restaurantes…
.Faça benchmark
É muito legal focar em conhecer empresas do mesmo setor que o seu. No nosso caso, fomos ao escritório da Square, startup de pagamentos criada por Jack Dorsey, um dos fundadores do Twitter. Foi interessante ver como estão crescendo e até uma boa oportunidade para entender os processos da empresa e fazer contatos para possíveis parcerias.
.Vá direto ao ponto
Lá, o ecossistema é muito mais maduro. Tudo, no final das contas, se baseia em negócios. Não tem aquela enrolação que a gente vê no Brasil. As reuniões previstas para durar 15 minutos com certeza não passarão disso. Se você conseguir marcar com alguém, prepare-se para ir direto ao assunto.
.Leve informações-chave sobre o seu negócio
Dizem que os investidores do Vale do Silício escutam cerca de 580 pitches por ano. É muita coisa. Se você conseguir apresentar seu negócio para alguém, a minha sugestão é: mostre o cenário (com números) de quando começaram, de como estão hoje e, se for o caso, faça uma projeção de como estarão daqui um ano, por exemplo. Crescimento e tração são essenciais. E, muito importante: de cara já deixe claro o “ask”, isto é, o que vocês pretendem com esse pitch.
As apresentações costumam levar três minutos e conquistar a atenção do investidor logo no início é fundamental – se não, não vai demorar para ele abrir o computador e começar a fazer outra coisa. No nosso caso, apostamos no formato de pitch padrão, mas outro estilo bastante comum é o de contar uma história no PPT, algo como “esse é o Fulano, ele é dono de um restaurante e tem perdido muitos clientes por conta das longas filas…”.
João apresentando a Liuv para executivos da Visa
.Aposte nos diferenciais do seu mercado
Existem milhares de soluções digitais de pagamentos, principalmente nos Estados Unidos. Se eu chego para um investidor dizendo que desenvolvi mais uma desse tipo, ele nem vai querer começar a conversa. No meu caso, foquei naqueles que têm estratégia de globalização e mostrei como a América Latina ainda não tem uma empresa desse segmento consolidada.
.Sem ansiedade
Dificilmente, para não dizer que é impossível, você vai sair da reunião com um cheque assinado. O pitch é mais para ver se o investidor curte o seu negócio, topa levar o papo adiante e entrar em detalhes financeiros mais específicos. Por isso, aliás, que vale apresentar uma projeção. Se o investidor se interessar, ele pode falar “legal, se você chegar mesmo nesse estágio no tempo em que imagina, volte para a gente conversar”. Assim, vocês já terão um relacionamento e um caminho traçado.
.Seja uma esponja
Sempre bom lembrar: os conselhos que eles dão nesses papos são de graça. Mesmo que venham de pessoas do Vale do Silício, filtre o que faz sentido ou não para o seu negócio – você o conhece melhor do que ninguém.